Dr. Gustavo Starling, Diretor da SBMEE, fala sobre Spinning, para o Portal G1
O que é spinning e como praticar de forma correta (sem risco de ficar com xixi preto e ir parar na UTI)
Foi o que aconteceu com a influenciadora Kamila Rigobeli: após uma aula experimental de spinning, ela sofreu o efeito tóxico do exercício intenso quando praticado por pessoas que não estão devidamente preparadas. Em um vídeo postado nas redes sociais, Kamila relatou que teve muita dor e precisou de internação depois que seu xixi ficou preto.
Segundo os médicos, a influenciadora teve uma rabdomiólise, que é uma doença que ocorre pela reação do corpo a uma lesão muscular grave (entenda mais sobre isso aqui).
A seguir, você entende como praticar o spinning do jeito certo, com risco mínimo para sua saúde.
🤔Mas, antes, o que é spinning? É uma bicicleta, mas não é a mesma coisa que montar na bike e sair pedalando ao ar livre. Também é diferente de uma bicicleta ergométrica daquelas encontradas em academias em geral, e que os alunos usam para fazer exercícios cardiovasculares alternando com a esteira durante um treino de musculação.
💭 Quem explica isso é Gustavo Starling Torres, especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e diretor de Comunicação da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE).
“O spinning é uma modalidade de exercício indoor, envolvendo ciclismo estacionário. Em relação às bicicletas de rua, as de spinning são projetadas ergonomicamente, além de possibilitar o ajuste da resistência e até simular terrenos diversos.”
🚲 Como é uma aula de spinning? Nas academias focadas em spinning, é comum que o ambiente tenha uma iluminação própria, escura e com luzes próprias, como se fosse uma balada mesmo. O ambiente também é climatizado, com ar-condicionado. Em alguns momentos, os alunos são estimulados a levantar pesos, de 1 a 5 quilos. Aí, principalmente para iniciantes, o recomendado é não pedalar.
Influenciadora relata ter parado na UTI após aula de bike: entenda
“As bicicletas de spinning também possuem pedais especiais, permitindo o uso de sapatilhas específicas, as mesmas utilizadas por ciclistas, simulando melhor o gesto biomecânico de pedalar bikes competitivas. Embora estacionária, é uma atividade bastante dinâmica e muitas vezes exigente”, diz Torres.
🎶E também tem músicas durante toda a aula que, a depender da batida e do ritmo, estimulam o aluno a acelerar, pedalar “de pé” ou colocar mais ou menos carga.
Por isso que, de modo geral, o spinning é classificado como uma atividade aeróbica — o famoso “cardio pago”, sabe? Também, quando praticado corretamente, figura no rol de atividades de baixo impacto, mas, podendo ser, na maioria das vezes, de alta intensidade.
“O principal diferencial com outras atividades aeróbias está na realização de exercício desse tipo de forma indoor e controlada, além de ser de baixo impacto para as articulações, o que já não ocorre com treinos em esteira.”
E faz bem para quê? Antes de responder, é preciso ressaltar (de novo). Para usufruir das benesses, toda e qualquer atividade demanda orientação especializada de um educador físico e preparo (o que inclui roupas adequadas, boa hidratação e, principalmente, começar leve, sem pressa, adquirindo ritmo e fôlego aos poucos).
🦵A prática regular de spinning melhora o condicionamento cardiorrespiratório e a resistência muscular, especialmente das pernas. Além disso, a lista de benefícios vai do físico ao mental:
- Melhora cardiopulmonar, com aumento da resistência e condicionamento físico geral;
- Queima de calorias (e consequente controle de peso);
- Fortalecimento muscular
- Por ser uma atividade de baixo impacto, a prática acaba sendo mais segura para as articulações
- Interação social e motivação (sim, isso também é importante para a saúde)
🙂 O spinning também ajuda a controlar o estresse por liberar endorfina, um hormônio que ajuda a melhorar o humor e contribuir para a sensação de bem-estar.
🍑 “E, embora a ênfase esteja nas pernas, o spinning também envolve outros grandes grupos musculares, como glúteos e músculos do core, contribuindo para o fortalecimento geral do corpo”, diz Torres.
Riscos e cuidados
É preciso atentar-se à postura e frequência. Faça com acompanhamento, em boas condições de saúde e não sobrecarregando o corpo. Perceba quando o cansaço está pesando demais ou quando o corpo não responde mais tão bem. Aí, o jeito é parar e descansar.
“A prática excessiva e descontrolada de exercícios pode acarretar riscos à saúde, incluindo até distúrbios cardiovasculares.”
“No músculo esquelético, [o excesso] pode levar a câimbras e, no miocárdio, a arritmias cardíacas, situação mais rara, mas que pode acometer portadores de algum fator predisponente. Em situações mais graves, a prática extrema de exercícios, seja qual for, pode levar à rabdomiólise”.
Outra coisa muito importante de frisar: qualquer tipo de atividade física só traz riscos à saúde quando não é praticada corretamente.
“Muito pior que esses eventuais riscos específicos e pontuais é a opção pelo sedentarismo. O foco na moderação, recuperação adequada e acompanhamento médico, quando necessário, são essenciais para garantir que o exercício contribua positivamente para a saúde, ao invés de representar um risco.”
Com qual frequência praticar?
A frequência ideal de treino no spinning pode variar dependendo do condicionamento físico, objetivos e outros fatores individuais, como idade e estado de saúde.
De forma geral, por ser um treino com tendência à alta intensidade, uma média de até 3 dias por semana é o ideal, por propiciar intervalos suficientes e importantes de recuperação, período onde justamente ocorrem os fenômenos de adaptação e melhora dos sistemas orgânicos envolvidos.
Preparo
Antes de calçar as sapatilhas, o recomendado é fazer uma refeição leve e rica em carboidratos complexos cerca de 1 ou 2 horas antes da aula. “Incluir uma pequena quantidade de proteínas magras, como iogurte grego ou uma porção de ovos, pode ajudar a fornecer nutrientes importantes para a recuperação muscular”, diz Torres.
Durante a aula, é importante manter-se hidratado, bebendo água regularmente, especialmente se a aula for intensa e envolver muita transpiração.
Depois, o indicado é consumir uma refeição com quantidade equilibrada de carboidratos e proteínas, dentro de 1 a 2 horas após a aula, para ajudar na recuperação.
Não custa lembrar: consulte sempre um nutricionista.
Sensação de vício
Não é incomum ouvir dizer que spinning vicia. Não está errado, mas, verdade seja dita, não é só spinning que causa essa (boa) sensação: é a prática regular de atividade física e a endorfina que ela libera.
“As aulas de spinning muitas vezes ocorrem em grupo, proporcionando uma atmosfera social e de apoio. Esse ambiente, aliado à música motivadora e aos estímulos do instrutor, pode aumentar essa percepção de satisfação, ‘prendendo’ mais ainda o praticante à atividade”, diz Torres.
O spinning também provoca aumento na queima de calorias, com perda de gordura, e melhora do fortalecimento muscular. Com esses resultados estéticos positivos ajudando, a motivação e a continuidade tendem a vir com mais naturalidade.
“Outros benefícios, como redução do estresse e consequente relaxamento também podem levar a uma sensação de necessidade da prática”, complementa Torres.