Dra. Ana Paula Simões, Diretora da SBMEE, explica sobre Rabdomiólise, para o Portal UOL

Dra. Ana Paula Simões, Diretora da SBMEE, explica sobre Rabdomiólise, para o Portal UOL

Reportagem: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/11/13/fui-parar-na-uti-apos-fazer-uma-aula-experimental-de-spinning.amp.htm

‘Fiz aula de spinning, meu xixi ficou igual Coca-Cola e acabei na UTI’

Popular nas redes sociais, o spinning —exercício aeróbico feito com bicicletas ergométricas— promete ser um treino “completo”, para queimar calorias rapidamente. Kamila Rigobeli, 29, resolveu experimentar a modalidade, mas acabou parando na UTI.

Durante a aula, a influenciadora digital de São Paulo sentiu um desconforto nas pernas. Parecia ser apenas um grande cansaço decorrente do esforço físico, mas era, na verdade, um dos primeiros sintomas de rabdomiólise, uma síndrome que pode levar à falência renal.

Ao VivaBem, ela conta detalhes da história.

‘Quase caí quando desci da bicicleta’

“Não faço academia regularmente, mas, de vez em quando, faço aulas de tênis, vôlei e caminhada. Um dia, resolvi acompanhar uma amiga em uma aula experimental de spinning.

Achei que essa seria como qualquer outra aula, mas foi bastante puxada, sem nenhum intervalo. Ainda durante o treino, que durou 50 minutos, comecei a sentir um desconforto, mas continuei, pois pensei que era normal.

spinning - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Quando a aula acabou, minhas pernas já não aguentavam mais meu peso e quase caí quando desci da bicicleta. Todo mundo riu, inclusive o instrutor.

Ainda sentia muita dor quando cheguei em casa e, depois de uns três dias, já não conseguia mais andar e não dobrava mais a perna. Meus músculos ardiam, como se estivesse tudo rasgado por dentro.

Nesse tempo, minha urina começou a sair preta, igual Coca-Cola. Foi aí que entendi que tinha algo de errado comigo e um fisioterapeuta disse que eu precisava correr para o hospital.

Quando cheguei lá, fui internada às pressas. A quantidade de CPK [sigla para creatinofosfoquinase, enzimas liberadas em grande quantidade na corrente sanguínea após uma lesão do tecido muscular] no meu sangue era incalculável.

Kamila - Arquivo pessoal
Kamila conta que sentiu muita dor e já não conseguia mais andar Imagem: Arquivo pessoal

Fui diagnosticada com rabdomiólise e, imediatamente, encaminhada para a UTI.

Os médicos diziam que eu poderia precisar de hemodiálise ou até mesmo perder o rim. Meu fígado estava bastante lesionado e eu também corria risco de trombose, pois minhas pernas estavam muito inchadas e eu não podia mexê-las, já que qualquer movimento poderia liberar mais toxinas no sangue.

Tudo isso sem poder tomar medicamentos para a dor, pois estava amamentando. Pensei ‘vou morrer nesse hospital sem nem poder me despedir dos meus filhos’.

Recebi alta da UTI após sete dias. O ideal era esperar ainda mais, mas os médicos abriram uma exceção por causa dos meus filhos pequenos. Hoje, já me sinto melhor, mas disseram que meu fígado vai demorar uns dois meses para voltar ao normal.

Até lá, não posso fazer muito esforço físico e tenho de me hidratar muito.

Ainda não sei se vou ficar com sequelas, tudo depende dos resultados dos próximos exames. Algumas pessoas relataram que ficaram para sempre fazendo hemodiálise —é um risco que eu corro.

Tenho de continuar fazendo acompanhamento médico, mas, por enquanto, estou fora de perigo.”

Condição pode levar à falência renal

A rabdomiólise é caracterizada pela destruição das células musculares, que resulta na liberação de mioglobina na corrente sanguínea. Em excesso, essa proteína —responsável pela pigmentação marrom da urina— pode ser tóxica para os rins, além de danificar outros órgãos.

Problema também pode causar arritmia. A ruptura das células musculares também libera eletrólitos, como sódio e potássio, que podem causar arritmia cardíaca. Em casos mais graves, a rabdomiólise pode exigir diálise renal temporária ou resultar em insuficiência renal permanente.

Pode ocorrer após a prática de qualquer atividade física intensa, acima do limite suportado pelo corpo —que depende do preparo físico de cada um. Outros fatores de risco são o calor extremo e a desidratação profunda durante a prática do exercício.

Exercícios que exigem mais do corpo e duram muitas horas, como ultramaratonas, junto com o corpo despreparado, déficit nutricional e falha na hidratação podem culminar na lesão muscular excessiva.
Ana Paula Simões, médica do esporte

Dica é observar limites. “Principalmente em aulas coletivas, é preciso saber limitar seu próprio corpo. Às vezes queremos fazer o máximo, mas nem sempre é bom. Muitas vezes, menos é mais”, diz Gabriel Ganme, médico do esporte.

Para evitar lesões extremas, as dicas do especialista são:

  • Entender seu corpo e evitar passar dos limites.
  • Aumentar a carga de exercícios progressivamente, sob orientação profissional.
  • Evitar exercícios físicos no calor extremo.
  • Manter a hidratação.
  • Evitar substâncias como bombas e hormônios, sem necessidade.

Como diferenciar a dor muscular da rabdomiólise?

Diferença de intensidade. A dor muscular normalmente aparece entre um ou dois dias após o exercício físico, mas jamais deve ser extrema ou exagerada. Já a dor da rabdomiólise geralmente ultrapassa os limites do que conseguimos suportar, além de ocorrer junto com a urina escurecida.

Outros sintomas da rabdomiólise são:

  • Rigidez muscular e nas articulações.
  • Dificuldade de movimentação e locomoção.
  • Fraqueza e cansaço.
  • Desconforto abdominal, náuseas e vômitos, em alguns casos.

Buscar socorro rápido é essencial. “As sequelas acontecem principalmente quando a pessoa não busca ajuda, aí vai desde uma falência renal e pode até ocasionar a morte”, diz Simões.

Fontes: Ana Paula Simões, médica do esporte e diretora da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e Esporte, Gabriel Ganme, médico especialista em medicina esportiva e responsável pelo ambulatório de medicina dos esportes de aventura da Escola Paulista de Medicina e José Moura Neto, médico nefrologista e presidente da Sociedade Brasileira de Nefrologia.