Dr. Ricardo Galotti, vice-presidente da SBMEE, fala sobre a longevidade no futebol, para a CBN Esportes.
Clubes têm investido cada vez mais em jogadores que antes eram considerados velhos, mas é preciso treinamento específico e muita disciplina
Aos 39 anos, o atacante Vagner Love, principal contratação do Atlético Goianiense pra temporada, é um exemplo dos novos tempos. No ano passado, no Sport, de Recife, Love foi um dos artilheiros da Série B. Em 2023, foram 59 jogos, 23 gols e dez assistências. Ele conta que tem seguido uma rotina rígida para ser um dos protagonistas do time goiano na Série A deste ano.
“Primeiro, é porque eu amo muito o futebol, quero prolongar o máximo possível minha carreira e isso é o que eu estou tentando fazer, tentando buscar. Então, eu tento me cuidar mais, me alimentar melhor. O descanso hoje é um dos fatores mais importantes que eu vejo – não só para mim, mas dentro do futebol. Quando você descansa bem, você tem energia para suportar os treinamentos, suportar os jogos. São muitos jogos. Jogo no meio de semana, no final de semana”, conta o jogador.
Outro exemplo é o Nenê, que, aos 42 anos, é um dos protagonistas do Juventude para 2024. Com Vagner Love e Nenê, os clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro deste ano somam 45 jogadores com 35 anos ou mais. Três deles com mais de 40 anos – e todos titulares em seus clubes: Fábio, goleiro do Fluminense; Felipe Melo, também zagueiro do tricolor carioca; e Nenê, meio-campo do Juventude. Em 2014, de acordo com dados do portal Transfermarket, eram apenas 13 atletas nessa realidade.
Para manter o alto nível dos atletas por mais tempo, o avanço da medicina e dos trabalhos de preparação física são fatores determinantes. O vice-presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e médico do São Paulo, Ricardo Galotti, trabalha no futebol há 25 anos. Ele explica como a tecnologia hoje auxilia na performance do jogador.
“No início da minha carreira de médico, o atleta com 30 anos já era considerado em final de carreira. Depois, evoluiu para 35. Há 25 anos, praticamente não se suplementavam os atletas, e hoje em dia a gente consegue aumentar a performance com suplementos de primeira linha. Outra área de atuação que evoluiu demais foi o trabalho da fisioterapia. Ela age de forma preventiva e curativa. A fisiologia também teve uma melhora, com o controle de carga através do GPS. A gente consegue monitorar, saber exatamente o quanto o atleta percorre em um treino, os sprints que ele deu”, disse ele.
Uma das principais mudanças das última duas décadas é, justamente, o planejamento individualizado de treinos e jogos. O o preparador físico do Atlético Mineiro, Cristiano Nunes, explica que jogadores com genéticas diferentes e que atuam em posições distintas cumprem cargas específicas nos treinamentos e têm um calendário especial de partidas.
“Eles apresentam individualidades que precisam ser respeitadas, principalmente, em questões genéticas, de predisposição física, em questões de lastro de treino, histórico de lesões. Nós temos um departamento físico que procura estar muito atento ao controle de carga e sempre passando essas informações para o comando técnico. Existe um departamento fisiológico que procura levantar informações importantes no tocante aos níveis de estresse, percepções de dores, percepções de cansaço, perda de peso”, detalha o profissional.
No futebol feminino, Marta e Cristiane, símbolos do ouro no Pan-Americano de 2007, também são grandes exemplos. Aos 38 anos, a Rainha do Futebol segue protagonista na Seleção Brasileira. Já Cristiane fará 39 este ano e foi uma das principais contratações do Flamengo pra temporada.
No cenário internacional, Cristiano Ronaldo, de 39, e Messi, de 36, continuam esbajando bom futebol. No basquete, o veterano Lebron James, também aos 39, ainda é um dos melhores jogadores do mundo.
O médico do São Paulo, Ricardo Galotti, afirma que os jogadores se conscientizaram a se tornarem atletas melhores. Prova viva disso é o zagueiro Maicon, do Vasco. Ele fará 36 anos em setembro, está em seu décimo time na carreira e não pensa em se aposentar tão cedo. Além de cumprir a preparação física interna do clube, Maicon conta que mantém trabalhos por fora pra manter a parte física em alto nível.
“Primeiramente, eu acho que eu não sou somente um jogador de futebol, mas, sim, um atleta. Sou um cara que tem muito compromisso. Todos os dias chego antes no clube, faço um trabalho na academia, depois vou para o campo, depois volto novamente na academia para fazer alguns trabalhos específicos. E eu também tenho trabalhos por fora, o qual eu vou duas a três vezes na semana fazer trabalhos específicos para que eu mantenha a minha forma física. E eu estou sempre me auto desafiando para que eu mantenha um ritmo muito alto de competitividade”, disse.
Com toda a evolução no esporte, a idade passou a ser uma aliada, que permite unir a experiência ao vigor físico. Mas como tudo na vida: não existe fórmula mágica. A superação exige muita disciplina, com uma vida regrada, sono em dia e alimentação controlada. Quando aliada à tecnologia, essa receita é como o vinho: quanto mais velho, melhor.